Aquele momento da partida forçada foi doloroso e perdura na memória. Não houve tempo para olhar uma última vez e dizer adeus. África começava a distanciar-se. Tão longe. E tão perto. Tão longe... na vontade de lá voltar. Sem mágoa nem ressentimento. Tão perto, sempre presente na memória.
Na noite escura, o avião levantava voo e África ficava para trás. Tinham sido mais de 24 horas de espera e de angústia naquele aeroporto. Uma partida que causava uma mágoa. Mas o tempo cura tudo, dizem. Reorganiza as emoções para que se recordem os acontecimentos com distanciamento, digo eu. Jamais esquecemos tudo de bom e de mau que nos marca.
Deixar África e partir, era uma questão de sobrevivência. E de liberdade. Era noite. No aeroporto, ouvia o barulho assustador do grande tiroteio. Os confrontos aconteciam por toda a cidade e tornavam-se frequentes. As tracejantes riscavam o céu escuro. Sentia-se o medo. Fazia parte daqueles dias e tinha de conviver com ele.
Abril abre-se para uma pausa na memória da Páscoa quando os simbolismos religiosos se aceitavam serenamente e nada se questionava: a bênção dos óleos sagrados, o lava-pés, os laudes de sexta-feira santa, a vigília pascal e a festa da Ressurreição.