O outono, que trouxe consigo o prenúncio da invernia, ficou para trás. Sem demoras, o inverno acomodou-se, fez-se dono do tempo e vai espalhando o tom encinzeirado que o vento e a chuva, seus companheiros de estadia, carregam para imporem a fraqueza de um sol que, envergonhado, se esconde por trás de cortinas pardacentas que as nuvens agitadamente expõem pela atmosfera. E, no cenário pesado, cinzentão e húmido que domina, somos envolvidos pela invernia feroz, fria e persistente que toma conta dos dias.
Outono carrega consigo a riqueza dos seus matizes e, enquanto espalha e fixa, por toda a natureza, o castanho seco e o amarelo envelhecido da sua inigualável paleta de cores, o vento e a chuva, seus companheiros de sempre, vão tomando conta dos dias para, definitivamente, marcarem o fim do encantamento outonal e ameno com que os nossos sentidos se sentem privilegiados. Um tom plúmbeo e pesado instala-se, envolve novembro no lento definhamento dos seus dias e presenteia-nos com o vento e a chuva, incessantes, que trazem o prenúncio da invernia. E, no cenário em tons de cinzento e húmido, novembro faz jus ao adágio popular: "Dos Santos ao Natal, ou bom chover ou bem nevar".
mariam in http://momentodocafe.blogs.sapo.pt/ (excerto editado)
Mas não tarda muito e o outono consciencializa-se de que é dono do seu tempo e, cumprindo-o, desenvencilha-se da réstia de sol e do calor, enlaça-nos na ventania fria, desagradável e violenta que, sobre o chão, vai estendendo o tapete de folhas soltas e secas que só a natureza, na sua paleta de cores, sabe matizar na conjugação perfeita das tonalidades outonais. Silenciosamente, o outono vai manifestando a sua essência e sua vontade e, já sem disfarces, toma conta do seu destino, lançando a atmosfera outonal que nos envolve na chuva fria, insistente e indesejada que nos encharca o corpo e a alma, que nos definha os dias num prenúncio do inverno...
Existir é sentir, de forma "viva", os desafios da vida. E a sabedoria está no entender e em aceitar os desafios que ela nos reserva, ainda que, no horizonte, se desenhe um provável falhanço.
Janeiro cinzento, sem frio e nevoeiro ou sem chuva insistente, fustigada pelo vento agreste e desagradável, não existe. É o inverno a impor-se porque é chegado o seu tempo e cabe-lhe cumprir a etapa no caminho para a renovação. E assim seja feita a vontade da natureza e aguentem-se os caprichos do inverno, a sucessão dos dias sombrios, a ventania desenfreada, a chuva impertinente ou, então, aqueles dias pintados de branco sob um frio gelado... que janeiro traz a sina de nos entorpecer a alma e o corpo.
Lembro a velha máquina de café onde, na hora, o mano mais velho moía os grãos de café torrado para que o aroma e o sabor não se perdessem durante a confeção da bebida. À sombra da frondosa "mandioqueira", espreito a velha mesa do quintal, onde a gente adulta, em ameno convívio, saboreava o café, acabado de ser feito. África tão longe e tão perto, sempre inesquecível.